Pessoa virtual

Cuando Pessoa escribió Sê plural como o universo! dudo que hubiese imaginado tener un avatar en Second life. Hoy, en la primer Summer School del Programa de Doctorado de las Materialidades de la Literatura he descubierto, gracias a Paulo Silva Pereira, dos virtualizaciones del genio portugués. En la sesión anterior, Manuel Portela incidía que es falaz el argumento que asocia inmaterialidad a lo digital. Lo que vemos en la pantalla se sostiene, desde el impulso eléctrico al pixel, por camadas de interpretación con base material (desde el electrón al hardware). Reconozco que en un primer momento me chocó la representación virtual de Pessoa y por un momento pensé, ‘esto no es real’. Sin embargo, a la luz de lo expuesto, contemplé a Pessoa desde otra perspectiva.

«Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do abismo. Não sei onde ela me levará, porque não sei nada. Poderia considerar esta estalagem uma prisão, porque estou compelido a aguardar nela; poderia considerá-la um lugar de sociáveis, porque aqui me encontro com outros. Não sou, porém, nem impaciente nem comum. Deixo ao que são os que se fecham no quarto, deitados moles na cama onde esperam sem sono; deixo ao que fazem os que conversam nas salas, de onde as músicas e as vozes chegam cómodas até mim. Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos nas cores e nos sons da paisagem, e canto lento, para mim só, vagos cantos que componho enquanto espero.
Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência. Gozo a brisa que me dão e a alma que me deram para gozá-la, e não interrogo mais nem procuro. Se o que deixar escrito no livro dos viajantes puder, relido um dia por outros, entretê-los também na passagem, será bem. Se não o lerem, nem se entretiverem, será bem também.»

Pereira antes nos recomendó un texto de Ingrid Richardson y Carly Harper, Corporeal Virtuality: The Impossibility of a Fleshless Ontology, en el que los autores defienden que «While distinct terms, body and technology will always necessitate their interdependent consideration as a relationship. Likewise it becomes increasingly difficult to talk about bodies and technologies as separate entities – and therefore similarly to separate theories of technology from theories of our embodiment».

El texto hace referencia a Merleau-Ponty y recordé el excelente artículo de Anibal Frias en Pessoa Plural. Pero sobre todo pensé en La leyenda del artista de Ernst Kris y Otto Kurz, un ensayo en el que afirman: «Benedetto Croce describió bien este nuevo modo de ver las cosas con la observación de que lo que importa es la personalidad estética, y no la empírica, del artista (el creador de obras de arte, y no el hombre que vive su existencia cotidiana).» Al menos uno de esos Pessoas virtuales respeta su personalidad estética y eso me parece suficiente justificación para su representación.