All those moments, will be lost in time like tears in rain…

Pessoa escribía en el Libro del desasosiego: “Encuentro a veces, en la confusión vacía de mis gavetas literarias, papeles escritos por mí hace diez años, hace quince años, hace quizá más años. Y muchos de ellos me parecen de un extraño; me desreconozco en ellos. Hubo quien los escribió, y fui yo. Los sentí yo, pero fue como en otra vida, de la que hubiese despertado como de un sueño ajeno”.  Esta página recoge entradas en forma de notas que desde 2009 funcionaron como un laboratorio de escritura y de devaneos a partir de libros, películas, pensamientos… Notas que sentí, pero como en otra vida.

Entre Pessoa e o código


Esta semana lecionei uma oficina intitulada «Problemas e Soluções com o Uso de Ferramentas de Leitura Distante (Voyant Tools e R) no Livro do Desassossego» na Universidade do Porto. A oficina deriva do trabalho de investigação sobre as relações filosóficas na obra de Fernando Pessoa, onde são estudadas a intertextualidade, as taxonomias e a pós-textualidade no texto do escritor. A oficina contou com participantes de áreas diferentes: literatura, linguística, urbanismo, património, arqueologia e cinema.

A partir de uma pergunta do Diogo Marques, investigador no CODA e organizador da oficina, reparei que, ao longo dos anos de investigação, segui uma espécie de círculo hermenêutico entre leitura tradicional e leitura computacional. Comecei a ler a obra de Fernando Pessoa em Barcelona em 2010, seguindo as traduções de Ángel Crespo e Perfecto Cuadrado, sobre as quais realizei uma leitura atenta dos fragmentos que compõem o livro. Das traduções, passei à leitura das edições portuguesas: Jacinto do Prado Coelho, Teresa Sobral Cunha, Richard Zenith, Jerónimo Pizarro e Teresa Rita Lopes.

Em 2012, trabalhei na codificação dos manuscritos originais do «Livro do Desassossego» para o Arquivo LdoD, usando a norma XML-TEI. Finalmente, a partir de 2018, comecei a usar ferramentas de análise digital como o Voyant Tools e a linguagem R de Programação para fazer uma leitura distante da obra de Pessoa. Ou seja, passei pela leitura atenta do Livro do Desassossego, pela codificação com TEI e pelo uso de R para ler o texto à distância. Finalmente, interpreto os resultados de todos os processos, contextualizando a obra de Pessoa, mas também contextualizando a forma como os dados são modelados. Cada etapa do trabalho alimenta e é alimentada pelas outras, criando um acesso à obra de Fernando Pessoa sob múltiplas perspetivas. A análise digital não substitui a leitura tradicional, mas a complementa e expande. Diferentes camadas de significado e materialidade no texto pessoano são estudadas, utilizando tanto as ferramentas tradicionais da crítica literária quanto as novas tecnologias digitais.

Penso até que ponto esse percurso pode ser lido também como uma borda ao vazio lacaniano. Do real da letra ao real da letra computacional, qual é a lituraterra?

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